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quinta-feira, 25 de março de 2010

Governo às escuras

Durante a semana, os mais diversos noticiários do país têm veiculado conteúdo sobre os ‘diários secretos’ da Assembleia Legislativa do Paraná. Em ano eleitoral, a denúncia serve para pensarmos a que tipo de cenário político estamos submetidos e em maneiras de tornar fatos como esse menos recorrentes nos círculos do poder.

Obviamente, as brechas existentes na burocracia contribuem para que ocorram ‘desvios de conduta’ como esses. Nesse sentido, um dispositivo criado para manter a estabilidade do Estado entre uma gestão e outra acaba sendo usado em benefício próprio ou de terceiros. Entretanto, não devemos culpar a burocracia. Devemos voltar nossa indignação aos representantes eleitos pelo povo para trabalhar em função do bem-estar coletivo mas que não o fazem devido ao egoísmo ou a ganância.

Por outro lado, a divulgação de fatos dessa natureza pela imprensa só vem a confirmar a importância de reivindicações populares como o projeto “Ficha Limpa”. É somente conhecendo os candidatos que são apresentados “ à la carte” em época de campanha e seus antecedentes que a população pode ter subsídios para escolher com propriedade seus representantes.

Há tempos temos ouvido falar na necessidade de mudança na política. Talvez seja essa a hora de efetivarmos esse discurso, de transformarmos a realidade partindo efetivamente das bases . Afinal de que outra forma a sociedade pode dispor de dispositivos que propiciem justiça social e dignidade se nem mesmo nossos representantes acabam sendo justos ou dignos?

É o povo que sente os reflexos das deficiências na gestão pública, que pega ônibus lotado e espera por horas ou até mesmo meses para ser atendido pelo sistema público de saúde. Os representantes não passam por isso porque subentende-se que como figuras importantes dentro da gestão devem dispor de facilidades e benefícios para que o trabalho ao qual foram designados seja feito da melhor forma possível; e isso não deixa de ser justo, porém isso também os obriga a desempenharem suas funções da forma mais transparente possível, colocando em primeiro lugar os interesses da coletividade.

Atos ilícitos secretos como esses somente serão possíveis enquanto a política for um pesar e o exercício do voto seja visto como mera obrigação para a população. A cada dois anos o povo espera que tudo seja melhor , acredita, mas se decepciona por não se sentir realmente representada, perdendo a esperança a cada novo escândalo político.

Portanto, para uma real mudança, é necessário que os políticos entendam os anseios da população e , mais que tudo, sejam transparentes em todas as suas ações. Mais que um direito, é dever do cidadão que realmente acredita na mudança exigir que todos os atos da gestão sejam divulgados e que o acesso à essas informações seja fácil para todos. Só assim poderemos contestar o que é feito e como é feito e construir uma nova sociedade e uma nova política.

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